quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Conversa Crítica: Rafaela Alves

Como  já foi explicado na página Sobre o  blog, o  Lobatize  foi organizado  a  partir de  três  eixos: Lupa literária (discussão de outros autores sobre a obra  de  Lobato), Lentes de  Lobato (resumos e  resenhas feitas pela  equipe do blog) e Conversa Crítica (debates  e entrevistas criadas  pelo grupo).  A primeira convidada para a  conversa é a aluna Rafaela  Alves, que  participou da primeira equipe do projeto a  que está   ligado este  blog e  concedeu  uma entrevista às alunas Natália Pereira e Raquel Chaves, integrantes  atuais do projeto.
Rafaela,   agradecemos  por  sua participação!

Você acha que Monteiro Lobato foi um dos grandes mestres na Literatura Infantil por escrever livros para crianças?


            É inegável a importância do Lobato como escritor infantil. E, para a maior parte do público atual, tal importância talvez seja percebida na sua real dimensão. Lobato foi um mestre da literatura, não só por ter escrito livros para crianças, mas também por como o fez. Monteiro Lobato trouxe uma literatura infantil muito mais adequada ao público infantil de fato, aproximando-a da cultura brasileira. Se não me engano, os livros infantis antes do Lobato eram, principalmente, livros estrangeiros. Monteiro produziu histórias genuinamente brasileiras, com personagens e elementos nascidos na nossa cultura, mas sem excluir personagens já consagrados da literatura infantil.

Você acredita que Lobato estava a frente de seu tempo por ser um visionário?


Além disso, surpreendentemente, Lobato conseguiu aproximar o público infantil de outro tipo de literatura infantil, que consistia em, durante a narrativa, dar ao leitor algum conhecimento acadêmico sobre determinada área. Isto ocorre em vários de seus livros; para exemplificar, podemos citar Viagem ao céu, em que Lobato introduz conhecimentos de Astronomia. Talvez pareça fácil, mas, quando se trata de escrever para crianças, isso tem que ser muito bem dosado e administrado.

Por estes motivos e muitos outros, é possível considerar Lobato não apenas um mestre da literatura infantil, mas também um escritor que promoveu uma revolução no que se conhecia como tal.

Após a participação no projeto, qual sua opinião a respeito da importância de Monteiro Lobato na indústria petrolífera?

Antes de falar sobre a minha opinião depois de participar do projeto, é necessário falar da minha opinião antes disso. Bem, o fato é que eu desconhecia completamente e aqui dou ênfase ao completamente! a participação de Lobato na indústria petrolífera. Confesso que, até a primeira conversa e o primeiro dia de desenvolvimento de projeto, Lobato para mim era apenas o escritor de livros infantis que produziu basicamente o material relacionado ao Sítio do Picapau Amarelo, apesar de saber que a sua obra também contemplava o público adulto. E aqui uso aspas ao dizer apenas, pois, como muitas crianças, as histórias do Sítio que foram levadas à televisão fizeram parte da minha infância.

De qualquer forma, atentando à pergunta em si, hoje posso afirmar que, sem Lobato, a indústria petrolífera brasileira teria tomado um rumo completamente diferente. Em poucas palavras, Monteiro Lobato foi o precursor da campanha O petróleo é nosso, que culminou na criação da Petrobras.

O escritor sabia exatamente o tamanho da prosperidade que o petróleo poderia oferecer ao Brasil, e ansiava por essa prosperidade. Claro, havia benefícios individuais em jogo,  que Lobato receberia com braços mais que abertos, mas havia também a preocupação de dar ao povo brasileiro algo que já era seu; neste caso, os recursos petrolíferos. Quero dizer, Lobato não apenas escreveu sobre o petróleo. Durante suas pesquisas, o escritor viu no Brasil um potencial imenso, mas que não era aproveitado pelo próprio governo, por questões de interesse de companhias estrangeiras. Ao ver isso, Lobato não apenas participou ativamente da indústria, com sua própria companhia de extração, mas também denunciou tal questão de interesse de todas as formas possíveis; sendo escritor, nada mais óbvio que escrevesse um livro, sendo este principalmente O escândalo do petróleo, que é um dos focos do projeto, junto com O poço do Visconde, a versão infantil do primeiro, digamos.
Você concorda com a opinião de Lobato de que o Brasil deveria ter uma identidade própria, da maneira como o país era influenciado pelas tendências exteriores? 

 Sim! Uma cultura ser influenciada por outra não é algo necessariamente ruim, mas, quando acontece como é colocado por Lobato, ou seja, quando tal cultura perde a sua identidade, algo tem de estar errado. A cultura estrangeira não deve jamais ser maior que a cultura nacional. Talvez seja um (pequeno) exagero, mas eu acredito que isso se trate do assassinato lento e gradual de uma cultura.

Lobato estava à frente de seu tempo por muitas razões. Ou, na verdade, por um conjunto de características: ele não apenas enxergava à frente, mas também enxergava com clareza; assim como estava disposto a não apenas planejar ou especular sobre determinado assunto, mas também a participar ativamente. Um exemplo bom exemplo seria a sua aventura (ou desventura) na indústria do petróleo. Lobato, sendo escritor, estuda sobre a área de petróleo, com o auxílio de colegas e profissionais da área, monta uma empresa para extração de petróleo, que existiu e funcionou, da forma que era possível nas circunstâncias em que se encontrava. O que faz com que ele destaque é não apenas a sua visão, mas o fato de ser um homem de ações.


Um grande pensamento de Monteiro foi: “Um país se faz com homens e livros.”. Como estudante atualizado e ex-participante desse projeto voltado para leitura qual sua crítica sobre essa citação?

Cito uma afirmação que se popularizou nas redes sociais: Os livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas. A leitura desempenhou um papel fundamental na minha infância e então no resto da minha vida. Dessa forma, a minha experiência pessoal faz com que eu não consiga discordar de qualquer afirmação que exalte a importância dos livros seja na construção de um país, de pessoas, de ideias ou do que quer que seja.

Livros de qualquer espécie, sejam acadêmicos ou não, são capazes de exercer uma influência sem tamanho nos indivíduos e, dessa forma, promovem transformações incríveis. É possível citar os diversos casos nos quais se observa o tal poder de um livro, mas creio que seria desnecessário. De uma forma tão simples e tão complexa ao mesmo tempo, os livros influenciam o mundo e por eles são influenciados em retorno. Lobato, como escritor e principalmente como leitor, conhecia os livros e certamente sabia do que estava falando. Qualquer pessoa que saiba extrair da leitura tudo o que ela tem a oferecer é capaz de compreender a afirmação de Monteiro Lobato.

 Recentemente houve questionamentos se Lobato era racista. Após o contato com suas obras e com o este projeto, você o consideraria racista ou não?
 
Lembro-me que, apesar de não ser o foco do projeto, este foi um dos primeiros pontos discutidos. A conclusão a que chegamos, com a qual concordo até hoje, é a seguinte: o trecho específico pelo qual acusavam Monteiro Lobato não possuía cunho racista para qualquer pessoa de bom-senso, mesmo procurando com muita força de vontade. Entretanto, em alguns outros escritos seus no caso, especialmente em cartas pessoas , Lobato expunha, sim, certo racismo, concordando com a ideia de eugenia presente na sua época.

Já conhecia Monteiro Lobato antes desse projeto? Se sim, qual era sua opinião a respeito dele? Você foi influenciada pelos seus livros?
 
Bem, como já afirmei anteriormente, conheci Lobato pelo programa de televisão adaptado das suas obras sobre o Sítio do Picapau Amarelo. Apesar de não ter acompanhado, assistia com certa regularidade. Foi apenas durante o ensino fundamental, no estudo de literatura, que descobri que Lobato não escreveu apenas livros infantis e fui apresentada a um dos seus maiores personagens, o Jeca Tatu. Desde então, mantive alguma curiosidade sobre Lobato e seus livros, tendo a intenção de lê-los, em algum dia. Mas foi apenas no projeto que tive a oportunidade de ler Lobato e descobrir quão ampla a sua obra realmente é. Da experiência no projeto, ficou um conhecimento muito mais profundo sobre a questão do petróleo no Brasil e das obras de Monteiro Lobato, com o desejo voltar a lê-las e certa admiração pelo escritor.


E, sim, eu me sinto influenciada pelos seus livros. Quem lê Lobato, sabe que é praticamente impossível não sofrer tal influência. Seus livros aguçam aquela capacidade de questionar e criticar que, muitas vezes, ficam dormentes. Quando estiver se sentindo assim, não se preocupe: uma pequena dose de Lobato vai ajudar.
  

Se  você gostou da  nossa  Conversa Crítica, fique  de  olho no  blog; a  próxima entrevistada será a ex-participante do projeto, Carol Muniz.
 
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