Como já foi explicado na página Sobre o blog, o Lobatize foi organizado a partir de três eixos: Lupa literária (discussão de outros autores sobre a obra de Lobato), Lentes de Lobato (resumos e resenhas feitas pela equipe do blog) e Conversa Crítica (debates e entrevistas criadas pelo grupo). A primeira convidada para a conversa é a aluna Rafaela Alves, que participou da primeira equipe do projeto a que está ligado este blog e concedeu uma entrevista às alunas Natália Pereira e Raquel Chaves, integrantes atuais do projeto.
Rafaela, agradecemos por sua participação!
Rafaela, agradecemos por sua participação!
É
inegável a importância do Lobato como
escritor infantil. E, para a maior parte do público atual, tal
importância talvez seja
percebida na sua real dimensão. Lobato foi um mestre da literatura, não só por ter escrito
livros para crianças, mas também por como o fez. Monteiro Lobato trouxe uma literatura infantil muito
mais adequada ao público infantil de fato, aproximando-a da cultura brasileira. Se não me engano, os
livros infantis antes do Lobato eram, principalmente, livros estrangeiros.
Monteiro produziu histórias genuinamente brasileiras, com personagens e elementos nascidos na
nossa cultura, mas sem excluir personagens já consagrados da
literatura infantil.
Você acredita que Lobato
estava a frente de seu tempo por ser um visionário?
Além disso, surpreendentemente, Lobato conseguiu
aproximar o público infantil de outro tipo de literatura infantil, que consistia em,
durante a narrativa, dar ao leitor algum conhecimento acadêmico sobre
determinada área. Isto ocorre em vários de seus livros; para exemplificar, podemos
citar Viagem ao céu, em que Lobato
introduz conhecimentos de Astronomia. Talvez pareça fácil, mas, quando se
trata de escrever para crianças, isso tem que ser muito bem dosado e
administrado.
Por
estes motivos e muitos outros, é possível considerar
Lobato não apenas um mestre da literatura infantil, mas também um escritor que
promoveu uma revolução no que se conhecia como tal.
Antes
de falar sobre a minha opinião depois de participar do projeto, é necessário falar da minha
opinião antes disso. Bem,
o fato é que eu desconhecia completamente — e aqui dou ênfase ao
completamente! — a participação de Lobato na indústria petrolífera. Confesso que,
até a primeira conversa
e o primeiro dia de desenvolvimento de projeto, Lobato para mim era “apenas” o escritor de
livros infantis que produziu basicamente o material relacionado ao Sítio do Picapau
Amarelo, apesar de saber que a sua obra também contemplava o público adulto. E
aqui uso aspas ao dizer “apenas”, pois, como muitas crianças, as histórias do Sítio que foram
levadas à televisão fizeram parte da minha infância.
De
qualquer forma, atentando à pergunta em si,
hoje posso afirmar que, sem Lobato, a indústria petrolífera brasileira
teria tomado um rumo completamente diferente. Em poucas palavras, Monteiro
Lobato foi o precursor da campanha “O petróleo é nosso”, que culminou na
criação da Petrobras.
O escritor sabia
exatamente o tamanho da prosperidade que o petróleo poderia
oferecer ao Brasil, e ansiava por essa prosperidade. Claro, havia benefícios individuais em
jogo, que Lobato receberia com braços mais que abertos, mas havia também a preocupação de dar ao povo
brasileiro algo que já era seu; neste caso, os recursos petrolíferos. Quero dizer,
Lobato não apenas escreveu sobre o petróleo. Durante suas pesquisas, o escritor
viu no Brasil um potencial imenso, mas que não era aproveitado
pelo próprio governo, por questões de interesse de companhias estrangeiras. Ao
ver isso, Lobato não apenas participou ativamente da indústria, com sua própria companhia de
extração, mas também denunciou tal
questão de interesse de
todas as formas possíveis; sendo escritor, nada mais óbvio que escrevesse um livro, sendo este
principalmente O escândalo do petróleo, que é um dos focos do projeto, junto com O poço do Visconde, a versão infantil do
primeiro, digamos.
Você concorda com a
opinião de Lobato de que
o Brasil deveria ter uma identidade própria, da maneira como o país era influenciado
pelas tendências exteriores?
Sim!
Uma cultura ser influenciada por outra não é algo
necessariamente ruim, mas, quando acontece como é colocado por
Lobato, ou seja, quando tal cultura perde a sua identidade, algo tem de estar
errado. A cultura estrangeira não deve jamais ser maior que a cultura nacional.
Talvez seja um (pequeno) exagero, mas eu acredito que isso se trate do
assassinato lento e gradual de uma cultura.
Lobato
estava à frente de seu tempo por muitas razões. Ou, na verdade,
por um conjunto de características: ele não apenas enxergava à frente, mas também enxergava com
clareza; assim como estava disposto a não apenas planejar ou especular sobre
determinado assunto, mas também a participar ativamente. Um exemplo bom exemplo
seria a sua aventura (ou desventura) na indústria do petróleo. Lobato, sendo
escritor, estuda sobre a área de petróleo, com o auxílio de colegas e
profissionais da área, monta uma empresa para extração de petróleo, que existiu e
funcionou, da forma que era possível nas circunstâncias em que se
encontrava. O que faz com que ele destaque é não apenas a sua visão, mas o fato de
ser um homem de ações.
Um grande
pensamento de Monteiro foi: “Um país se faz com homens e livros.”. Como estudante
atualizado e ex-participante desse projeto voltado para leitura qual sua crítica sobre essa
citação?
Cito
uma afirmação que se popularizou nas redes sociais: “Os livros não mudam o mundo,
quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas”. A leitura
desempenhou um papel fundamental na minha infância e então no resto da minha
vida. Dessa forma, a minha experiência pessoal faz com que eu não consiga discordar
de qualquer afirmação que exalte a importância dos livros — seja na construção de um país, de pessoas, de
ideias ou do que quer que seja.
Livros
de qualquer espécie, sejam acadêmicos ou não, são capazes de
exercer uma influência sem tamanho nos indivíduos e, dessa forma, promovem transformações incríveis. É possível citar os
diversos casos nos quais se observa o tal “poder de um livro”, mas creio que
seria desnecessário. De uma forma tão simples e tão complexa ao mesmo
tempo, os livros influenciam o mundo e por eles são influenciados em
retorno. Lobato, como escritor e principalmente como leitor, conhecia os livros
e certamente sabia do que estava falando. Qualquer pessoa que saiba extrair da
leitura tudo o que ela tem a oferecer é capaz de
compreender a afirmação de Monteiro Lobato.
Recentemente houve
questionamentos se Lobato era racista. Após o contato com suas obras e com o este
projeto, você o consideraria racista ou não?
Lembro-me
que, apesar de não ser o foco do projeto, este foi um dos primeiros pontos discutidos.
A conclusão a que chegamos, com a qual concordo até hoje, é a seguinte: o
trecho específico pelo qual acusavam Monteiro Lobato não possuía cunho racista
para qualquer pessoa de bom-senso, mesmo procurando com muita força de vontade.
Entretanto, em alguns outros escritos seus — no caso,
especialmente em cartas pessoas —, Lobato expunha, sim, certo racismo, concordando
com a ideia de eugenia presente na sua época.
Já conhecia Monteiro
Lobato antes desse projeto? Se sim, qual era sua opinião a respeito dele?
Você foi influenciada
pelos seus livros?
Bem,
como já afirmei
anteriormente, conheci Lobato pelo programa de televisão adaptado das suas
obras sobre o Sítio do Picapau Amarelo. Apesar de não ter acompanhado,
assistia com certa regularidade. Foi apenas durante o ensino fundamental, no
estudo de literatura, que descobri que Lobato não escreveu apenas
livros infantis e fui apresentada a um dos seus maiores personagens, o Jeca
Tatu. Desde então, mantive alguma curiosidade sobre Lobato e seus livros, tendo a
intenção de lê-los, em algum dia.
Mas foi apenas no projeto que tive a oportunidade de ler Lobato e descobrir quão ampla a sua obra
realmente é. Da experiência no projeto, ficou um conhecimento muito mais profundo sobre a
questão do petróleo no Brasil e das
obras de Monteiro Lobato, com o desejo voltar a lê-las e certa admiração pelo escritor.
E,
sim, eu me sinto influenciada pelos seus livros. Quem lê Lobato, sabe que é praticamente impossível não sofrer tal influência. Seus livros
aguçam aquela capacidade
de questionar e criticar que, muitas vezes, ficam dormentes. Quando estiver se
sentindo assim, não se preocupe: uma pequena dose de Lobato vai ajudar.
Se você gostou da nossa Conversa Crítica, fique de olho no blog; a próxima entrevistada será a ex-participante do projeto, Carol Muniz.
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